Após 23 anos da morte do cantor Leandro, a lembrança do dia que o Brasil perdeu um de seus ídolos segue viva em quem viu aquele 23 de junho de 1998 de perto
O cantor sertanejo Leandro, irmão e dupla de Leonardo, tinha apenas 36 anos quando perdeu a batalha contra um câncer de pulmão, no dia 23 de junho de 1998, no auge do sucesso da dupla. Era praticamente um menino, com um futuro brilhante que nunca aconteceu. A doença foi mais forte e o levou cedo demais.
Eu era ainda mais menina do que Leandro, tinha 20 anos. Naquela manhã coberta por uma névoa que anunciava a chegada de um belo sol de inverno, desembarquei no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, cheia de malas e histórias pra contar, depois de ficar uma semana fora do Brasil, na minha primeira viagem internacional.
Havia uma atmosfera diferente naquele dia. Os rostos das pessoas à minha volta estavam carregados e eu via muitas expressões de tristeza, algumas lágrimas. No saguão do aeroporto, muitos televisores ligados, pessoas aglomeradas em volta, prestando atenção. Para mim, pareceu que aquele lugar, sempre vivo e barulhento, silenciou em reverência a quem partia.
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Quem morreu? Lembro de parar em frente a uma lanchonete onde havia mais uma TV ligada. Olhos fixos na tela buscando respostas. Não esqueça que, em 1998, o Google nem existia, a internet engatinhava, quase ninguém tinha celular (que só servia para chamadas de voz e troca de mensagens de texto) e eu havia passado vários dias sem me preocupar em ter notícias do Brasil.
Recebi como um soco no peito a notícia de que Leandro havia partido. O câncer chegou como um furacão e o levou rápido. Leonardo chorava inconsolável. A bandeira do Brasil e o chapéu que Leandro sempre usava estavam sobre o caixão. Havia até aquele dia um sopro de esperança no coração de todos de que ele iria se recuperar, mas Deus tinha outros planos.
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A despedida de Leandro parou o Brasil
Vi um país parado para acenar para o ídolo em seu último adeus. Uma multidão acompanhou o cortejo, o que me fez lembrar da morte de outro ídolo nacional, Ayrton Senna, apenas quatro anos antes. Os “Amigos” Chitãozinho e Xororó e Zezé Di Camargo e Luciano também acompanhavam.
Hipnotizada em frente à TV, lembrei das muitas tardes vendo Leandro e Leonardo cantar nos programas dominicais, e do som de suas músicas ecoando no rádio do carro. Em um tempo em que os shows não eram, em sua maioria, grandes produções, não havia investimento no mundo que escondesse qualquer falta de talento.
Talento Leandro tinha de sobra. Segunda voz doce, calma e precisa, que apoiava os agudos do irmão Leonardo. Ele subia no palco com seu jeito tímido e já nos primeiros acordes da banda, entregava tudo, nos presenteava com doses imensas de competência e carisma.
Naquela manhã, eu ainda tinha mais um vôo a enfrentar antes de chegar em casa. Caminhei a passos lentos até o embarque. Ainda lembro do silêncio dentro do avião. Uma senhora sentou na poltrona ao lado cantarolando bem baixinho uma das músicas famosas da dupla e naquele momento eu entendi. Nenhum de nós jamais aprende a dizer adeus, mas nem precisava. Leandro estaria presente para sempre no coração de um país inteiro.
Sobre Dyala Assef: Escritora e produtora de conteúdo do Movimento Country, professora universitária, cantora amadora nas horas vagas, amante de todos os tipos de boa música e atenta observadora de tudo o que acontece em volta.