Hugo Henrique, que acaba de gravar seu novo DVD “Virada de Chave”, busca emplacar carreira no sertanejo após conexão com Cristiano Araújo
Quando a equipe do Movimento Country recebeu as fotos da gravação do novo DVD do cantor Hugo Henrique, que, oportunamente, ganhou o nome de “Virada de Chave”, achei que era o momento ideal para dedicar algumas palavras falando desse artista que, ao meu ver, é muito promissor e busca sair das sombras do nome de Cristiano Araújo. Uma guinada na carreira vai ser muito bem vinda.
Antes de mais nada, se você não sabe muito bem de quem estou falando, deixa eu te situar um pouco melhor. Hugo Henrique completou 18 anos há poucos dias e começou a carreira muito cedo, aos cinco. Ganhou notoriedade quando participou do Programa Raul Gil, ficando conhecido como o mini Cristiano Araújo. Inclusive, o próprio Cristiano fez uma participação especial no programa, cantando “Efeitos” ao lado do pequeno Hugo, então com 7 anos. O ano era 2011.
Logo em seguida, Hugo Henrique participou do videoclipe de “Você Mudou”, fazendo o papel de Cristiano Araújo ainda criança, o que reforçou a conexão entre os dois cantores. O resto, é história. Cristiano perdeu a vida em um trágico acidente de carro, em junho de 2015, quando estava no auge da carreira, e sobre Hugo Henrique ficamos um bom tempo sem ouvir falar muita coisa.
Ouvir pouco sobre Hugo Henrique nos últimos tempos não significa que ele parou a carreira ou se afastou do sertanejo. Ao contrário. O rapaz seguiu ativo e emplacou composições de enorme visibilidade, como a excelente “Ausência“, em parceira com Felipe de Paula e Juliano Tchula e interpretada pela rainha Marília Mendonça. Além deste último, Hugo lançou outros dois DVDs e gravou parcerias com a própria Marília, além de Maiara e Maraisa e Jorge (dupla de Mateus).
Com um currículo desses, pode ser um pouco estranho eu precisar te explicar com mais detalhes de quem estamos falando, afinal de contas, Hugo Henrique já deveria ser um cantor estourado. Certo? Não necessariamente, e eu vou te explicar porque. Considero apropriado abordar a delicada questão do sucesso na infância, em alguns casos uma espécie de maldição que condenou alguns ao esquecimento e que, para aqueles que fazem a transição para a vida adulta com sucesso e conseguem manter a carreira, o caminho nunca é linear nem simples.
Como exemplos, há uma grande quantidade de nomes que eu poderia citar aqui, de Michael Jackson e Ricky Martin a Justin Bieber, entre os gringos, até os nacionais Simony, que desde o grupo Balão Mágico não emplacou nada relevante, e Sandy e Junior, que tiveram êxito em suas carreiras depois de adultos não só em virtude do talento mas também pela estrutura familiar que dava suporte por trás dos holofotes. Já falei aqui que Xororó é sensacional e acredito que a estabilidade que ele proveu em todas as instâncias fez muita diferença na carreira dos filhos.
Fora isso, existe a questão da expectativa criada, um fardo pesado para qualquer criança carregar. Aos sete anos, Hugo Henrique era sim talentoso, mas bem carregado na voz e nos trejeitos, roupas e penteado de Cristiano Araújo, em quem declaradamente se espelhava. Não dá pra exigir de um menininho desta idade qualquer traço de identidade própria em termos artísticos, e talvez, com a perda muito precoce do Cristiano original, as pessoas tenham pesado a mão nas expectativas. Você já deve saber que a expectativa é a mãe da decepção.
Assistindo a vídeos recentes de Hugo Henrique, oficiais ou simples guias para o novo DVD, o que se percebe é que Hugo Henrique cresceu. A voz já encorpou, já se vê um jovem adulto de talento que busca consolidar uma identidade artística própria e, graças a Deus, perdeu os trejeitos que funcionavam bem na voz de Cristiano Araújo, mas que a mim soam forçados em qualquer um que tente copiar. Hugo é um menino bonitinho, se veste bem, os trabalhos são bem produzidos (um abraço aí Flaney Gonzallez, um mestre das artes visuais). O que falta, então?
Guardadas as devidas proporções, lembrei do início meteórico da carreira de Luan Santana (sem trocadilhos, eu juro), exemplo de artista que explodiu com a mesma idade de Hugo hoje. E foi aí que eu entendi que o que falta a Hugo Henrique (e sobra em Luan Santana) é a tal da espontaneidade. Seus movimentos me parecem tão calculados, tudo tão planejado, que não me sobrou espaço pra entender qual a extensão do carisma desse menino (outra coisa que Luan esbanja).
Não se trata aqui de comparar os dois artistas, até porque as vozes e os estilos são bem diferentes e acho que há espaço no sertanejo para todo mundo. Senti falta de ver um Hugo Henrique com menos filtros, com a performance menos ensaiada, olhares para a câmera menos estudados, um comportamento mais espontâneo. Sou super a favor da excelência nas produções e fã de planejamento, mas a estrela de qualquer artista realmente brilha quando é possível enxergá-lo de forma mais autêntica. Aí é que nascem os grandes, quando se despem das vaidades e mostram o que são de verdade. O talento, Hugo Henrique já tem.
Sobre Dyala Assef: colunista do Movimento Country, escritora, professora universitária e ouvinte voraz de todos os estilos de boa música.